sexta-feira, 22 de junho de 2007

Primogênitos são mais inteligentes, diz estudo

CLAUDIO ANGELOEditor de Ciência da Folha de S.Paulo

Você acha seu irmão mais velho um metido? Pois acostume-se: um estudo publicado hoje mostra que os primogênitos realmente são, em média, mais inteligentes que os filhos mais novos de uma família.
A média, vá lá, não é assim tão alta: cerca de 2,3 pontos a mais no quociente de inteligência, o famigerado QI.
Mas o estudo, realizado por uma dupla de pesquisadores da Noruega, traz mais do que uma justificativa para a inveja dos caçulas: numa população grande, esses míseros 2,3 pontos podem fazer a diferença entre um irmão entrar numa boa universidade e o outro não.
"Em indivíduos, isso tem um poder de predição muito baixo", tranqüiliza Petter Kristensen, do Instituto Nacional de Saúde Ocupacional da Noruega e co-autor do estudo. "Num grupo de 60 mil pessoas, a chance de acesso à educação superior seria de 57% para o irmão mais velho e 43% para os caçulas --uma diferença muito pequena", explica.
Para chegar a essa conclusão, publicada hoje na revista "Science", Kristensen e Tor Bjerkedal, da Universidade de Oslo, analisaram dados de 250 mil noruegueses. Quase todos tinham entre 18 e 19 anos, idade em que se presta o equivalente ao vestibular no país.
"No começo eu achava que isso fosse uma ilusão estatística", diz Kristensen. "Mas depois eu vi que o efeito é real."
A relação entre a ordem de nascimento e a inteligência faz parte de um certo folclore familiar. "Estudos têm mostrado que os primeiros filhos são qualificados por eles mesmos, seus pais e seus irmãos como sendo mais disciplinados, mais esforçados e mais inteligentes", diz o psicólogo Frank Sulloway, da Universidade de Berkeley (EUA), que comentou o estudo.
O primeiro a tentar estabelecê-la numa base científica foi o britânico Francis Galton (1822-1911), primo de Charles Darwin (mais famoso por ter elaborado o conceito de eugenia). Depois, vários cientistas se dedicaram ao tema. Um estudo de 1973 na Holanda chegou a estabelecer essa relação, mas recebeu uma saraivada de críticas.
Primeiro, muitos achavam que o tamanho da família fizesse diferença (famílias com crianças menos inteligentes tendem a ser grandes). Efeitos biológicos --como a produção de anticorpos pela mãe no primeiro parto que afetassem o cérebro dos outros filhos-- também foram propostos. Depois, outros estudos, com crianças mais novas, deram o resultado oposto.
Na amostra de Kristensen e Bjerkendal, no entanto, o padrão é consistente. E, o mais revelador: filhos de famílias cujos primogênitos morriam e que eram criados no papel de mais velhos também mostravam maior QI --descartando-se, assim, efeitos biológicos.
Para Sulloway, parte da explicação para o QI dos primogênitos pode estar na diluição dos recursos familiares. "Tipicamente, os mais novos estão em desvantagem na obtenção de recursos importantes: tendem a ser menos vacinados, são mais baixos e pesam menos." Outra parte, ironicamente, pode estar nos caçulas. Ensinar irmãos mais novos deve beneficiar mais o tutor que o aprendiz, já que o ensino ajuda a organizar e expressar idéias.
"Pode ser isso, sim", afirma Kristensen, que prefere não arriscar uma hipótese.
O norueguês, ele mesmo filho mais novo, diz que não acha seu irmão mais velho mais inteligente. "Só sei que ele ficou feliz com o estudo", espeta.

Nenhum comentário: