quarta-feira, 26 de dezembro de 2007


FELIZ E VENTUROSO ANO NOVO!!!
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MENSAGEM DO DIA 27/12/2007

A Vingança

Você considera a vingança como um ato de coragem ou de covardia? Algumas pessoas acreditam que a vingança é uma demonstração de grande coragem. Afinal de contas não se pode tolerar uma afronta sem se rebaixar. Pensam que a tolerância e a indulgência seriam prova de fraqueza ou de covardia. Todavia, temos de convir que o ato de vingar-se jamais constitui prova de coragem. Geralmente, quando buscamos revidar uma ofensa o fazemos movidos pelo medo do agressor ou da opinião pública. Não importa que a nossa consciência nos acuse de covardia ou indignidade, o que nos interessa é que a sociedade não nos julgue assim. O mesmo não ocorre com relação ao ato de perdoar. O perdão, sim, exige do ofendido muita coragem e dignidade. Enquanto a vingança é uma ladeira fácil de descer, o perdão é uma ladeira difícil de subir. Algumas pessoas costumam enfrentar corajosamente os mais graves perigos, mas sentem-se impotentes para tolerar uma pequena ofensa. Escalam, com ousadia, altas montanhas, saltam de pára-quedas desafiando as alturas, enfrentam animais ferozes, aceitam os desafios do trânsito, navegam em mar revolto com bravura, mas não conseguem suportar um mínimo golpe da injustiça. Dão grande prova de coragem em alguns pontos, mas não relevam a investida da ingratidão, da calúnia, do cinismo, da falsidade, da infidelidade. Realmente fortes são aqueles que conseguem conter-se diante de uma agressão.
A verdadeira fortaleza está nas almas que não se descontrolam quando são ofendidas. Que não se impacientam quando são incomodadas. Que não se perturbam, quando são incompreendidas. Que não se queixam, quando são prejudicadas. Verdadeira coragem é aquela de que o Cristo nos deu o exemplo. Ele sofreu a ingratidão daqueles a quem havia ajudado, enfrentou o cinismo dos agressores, foi ultrajado, caluniado, cuspiram-Lhe no rosto e O crucificaram, e Ele tomou uma única atitude: a do perdão. Por várias vezes, em sua passagem pela terra, o Homem de Nazaré teve motivos de sobra para revidar ofensas, mas sempre optou pela dignidade de calar-se. Diante das agressões recebidas, o Meigo Rabi da Galiléia passava lições grandiosas, como aconteceu com soldado que O esbofeteou quando estava de mãos amarradas. Sem perder a serenidade habitual, o Cristo olhou-o nos olhos e lhe perguntou: “se eu errei, aponta meu erro, mas se não errei, por que me bates?” Essa é a atitude de uma alma verdadeiramente grande. Se Jesus tivesse parado em meio à caminhada do Gólgota, largado a cruz injusta do suplício, para se voltar contra seus agressores e exercer sobre eles o direito de vingança, certamente não teria passado à posteridade como modelo de perfeição e de amor.
MENSAGEM DO DIA 26/12/2007

Quando eu Ficar Velho...

No quarto do hospital, onde a esposa estava internada sob tratamento intensivo, com vários equipamentos ligados ao seu corpo, monitorando cada sinal vital, o esposo a observava, com ar de tristeza. A filha se esmerava em cuidados e carinho junto ao leito da mãe. De repente, o marido aproximou-se da filha e lhe disse, com convicção: “quando eu ficar velho, desejo estar numa cidade onde não tenha hospitais, pois não quero ficar dessa maneira, sob um leito, totalmente dependente.” Um desejo natural, com certeza, que muitos de nós alimentamos. O que vale a pena ressaltar, é que o esposo tem 92 anos de idade... E não se acha velho... Porque velho ele realmente não é, apesar de ser idoso. Ele é um nobre e dedicado advogado que mantém o mesmo entusiasmo e motivação da sua mocidade. Com sua jovialidade, de espírito lúcido, não se deixou levar pela idade... Não permitiu que a soma dos anos lhe pesassem sobre os ombros, sempre eretos e dispostos às responsabilidades que a vida lhe apresenta. Ele já viveu 92 primaveras no corpo físico, mas não é um velho. Já teve muitas desilusões, como todo mundo, mas não permitiu que isso o tornasse amargo. Ele assistiu duas guerras mundiais, mas não deixou que seus sonhos fossem soterrados sob os escombros da violência. Aceitou as dificuldades da caminhada como desafios, e nunca como obstáculos a impedir seus passos na estrada da evolução. Usou sempre a moderação como guia seguro nas horas de decisão. Jamais se deixou levar pelos apelos da inferioridade que arrastam muitos homens pelas veredas da desonra. Um homem íntegro, bom esposo, bom pai, bom irmão e amigo, um cidadão correto. É um espírito valente, respeitador dos valores morais; é um grande homem. Por todas essas razões ele não é um velho... Para ser velho não precisa ser idoso, basta fechar-se na concha escura do egoísmo, dos preconceitos, da vilania, do orgulho. Existem pessoas de pouca idade que estão com a alma enrugada pela corrupção, pela prepotência, pela soberba, pela violência interna, pela deslealdade, pela depressão. São jovens na idade mas esclerosados nos sentidos. Não estão dispostos a renovar atitudes, a aprender novas lições, a libertar-se dos preconceitos e dos vícios aos quais se acorrentam cada vez mais. Têm corpo jovem e mente envelhecida, cristalizada em idéias das quais não abrem mão. Dessa forma, podemos entender que juventude e velhice são estados d’alma, independentes da idade cronológica. Jovem é todo aquele que tem disposição de viver, de crescer, de rever atitudes e aprender sempre. Jovem é quem tem esperança, quem aposta na vida, quem enfrenta desafios com um sorriso nos lábios e fé no futuro.
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Rubem Alves, o ilustre educador que já sentiu perfume de flores em mais de setenta primaveras, em seu livro intitulado: Mansamente pastam as ovelhas, escreveu o seguinte: “Balançar é o melhor remédio para a depressão. Quem balança vira criança de novo. Razão por que eu acho um crime que nas praças públicas só haja balanços para crianças pequenas." "Há de haver balanços grandes para os grandes!" "Já imaginaram o pai e a mãe, o avô e a avó, balançando?" "Riram?" "Absurdo?" "Entendo." "Vocês estão velhos." "Têm medo do ridículo. Seu sonho fundamental está enterrado debaixo do cimento." "Eu já sou avô e me rejuvenesço balançando até tocar a ponta do pé na folha do caquizeiro, onde meu balanço está amarrado!” Pense nisso, e liberte o jovem que existe em você!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

MENSAGEM DO DIA 18/12/2007

A Sabedoria do Ministro

Existia, em uma terra distante, um rei e seu primeiro ministro. O rei era justo e bondoso. O primeiro ministro era um homem bom e sábio, e sempre dizia que a felicidade reinava porque existia um Deus bom e justo, que sempre fazia o que era melhor para todos. O rei seguia os passos de sabedoria do seu primeiro ministro que sempre dizia: "tudo que Deus faz é bom..." Essas eram sempre as palavras que faziam com que o rei fosse sensato e bondoso para com os seus súditos. O rei tinha dois passatempos diários. Um deles era trabalhar com madeira, fazendo talhas e esculturas e o outro era cavalgar pela floresta todas as manhãs, em companhia de seu primeiro ministro. Enquanto cavalgavam, os dois conversavam sobre os mistérios da vida. O rei sempre procurava explicações para suas aflições e nessas saídas diárias, em companhia de seu sábio primeiro ministro, ele encontrava conforto para seu coração, muitas vezes cheio de dúvidas e preocupações. Um dia, o rei estava trabalhando em sua oficina, serrando madeira, quando, inesperadamente, a serra decepou seu dedo indicador. Desesperado e aflito, mandou chamar seu primeiro ministro. Tinha esperança de que ele pudesse explicar o motivo pelo qual Deus havia permitido que o acidente acontecesse com ele, uma pessoa boa, justa e honesta. Porém, para surpresa do rei, o primeiro ministro, em vez de confortá-lo com palavras de alento e consolo, limitou-se a repetir o que sempre dizia "tudo que Deus faz é bom". Ao ouvir tamanha afronta, o rei, irado e desconsolado, mandou que os guardas o levassem para a prisão. Depois do acidente, a vida do rei ficou diferente. Não tinha ninguém para conversar e confidenciar pensamentos mas continuava com seus passatempos diários, trabalhando a madeira e cavalgando todas as manhãs, só que agora ia sozinho. Um belo dia, enquanto cavalgava por um recanto mais distante da floresta, foi aprisionado por índios selvagens. Levado para a tribo, amarrado e assustado, a única coisa que o rei poderia fazer era rezar e pedir a Deus que lhe desse proteção e paz. Chegando à tribo, o rei foi surpreendido por uma grande festa. Tambores e chocalhos soavam, índios pintados dançavam em volta de um altar, onde um sacerdote permanecia sentado em completo transe...tudo estava preparado para a grandiosa festa de sacrifício aos Deuses dos índios. A um pequeno movimento do sacerdote, alguns índios aproximaram-se do rei, desamarraram suas mãos e começaram a pintá-lo com cores fortes e berrantes. O sacerdote então aproximou-se e começou a dizer palavras que o rei não compreendia. Enquanto dançava ao redor do altar, o sacerdote observou que o rei não possuía um dos dedos da mão. Irado e frustado, ordenou que o rei fosse libertado, pois um ser incompleto não poderia ser oferecido em sacrifício para os deuses. Após ser libertado, o rei voltou ao castelo. Enquanto caminhava pela floresta, pensava sobre o que havia acontecido: "realmente tudo que Deus faz é bom". Se não tivesse perdido um dedo, teria perdido a vida. Uma questão, porém, ainda perturbava o rei. O que explicaria a permanência do seu fiel primeiro ministro na prisão, durante todo aquele tempo? Seria este Deus justo apenas para o rei e não para seus súditos? Chegando ao castelo, o rei ordenou que o primeiro ministro fosse solto e trazido a sua presença. Afinal, era impossível para ele entender o motivo pelo qual Deus havia sido tão injusto com um homem tão bondoso. Ao vê-lo, o rei contou o que havia acontecido pela manhã e falou: "agora compreendo que perdi um dedo mas em compensação não perdi a minha vida. No entanto, não entendo porque Deus não foi benevolente com você. Como isso pode ter sido bom para você?" O sábio e paciente amigo então lhe respondeu: "vossa alteza se esqueceu que tínhamos o costume de cavalgar juntos todas as manhãs? O que teria acontecido comigo se eu estivesse em sua companhia na floresta hoje? Afinal, eu tenho todos os meus dedos..." Deus faz coisas que, em determinados momentos, não podemos compreender e as julgamos erradas, mas no futuro entenderemos que foram em nosso próprio benefício. E por fim concluiu: "tudo que Deus faz é bom..."

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

MENSAGEM DO DIA 17/12/2007

Cuidados Com a Divulgação

O pai de família chegou em casa após o dia de trabalho e encontrou a mesa do jantar já posta à sua espera. Quando todos os familiares tomaram seus lugares para compartilhar daquele momento que deveria ser de tranqüilidade, o pai começou a contar sobre um incêndio criminoso ocorrido na cidade. Referiu-se à esperteza do malfeitor que o provocou. Explicou, nos mínimos detalhes, todos os passos do criminoso para atingir seu objetivo. Descreveu cenas emocionantes. Contava tudo gesticulando como se estivesse fazendo a reconstituição da cena. Enumerou todos os materiais que o rapaz usara para desencadear o incêndio. Depois que acabou sua refeição, ausentou-se, em companhia da esposa, para suas atividades costumeiras no templo religioso. Entretanto, não havia passado uma hora quando foi chamado às pressas para que voltasse ao lar. De retorno, pôde perceber, ao longe, que sua casa estava em chamas. As labaredas consumiam com voracidade o lar que até bem pouco tempo abrigava a família tranqüila. Imediatamente o pai de família começou a praguejar contra tudo e contra todos, tentando achar o responsável pela desgraça. Pensava, consigo mesmo, que isso só poderia ser obra de um louco. Em poucos minutos vários pensamentos passaram por sua mente em busca de algo que justificasse aquele ataque misterioso. Não tinha inimigos declarados. Não se lembrava de ter dívidas com ninguém. Por fim, admitiu que o incêndio só poderia ser fruto de um acidente. Sim, teria que ser um mero acidente. Preocupado com os filhos, buscou-os imediatamente em meio à fumaça e os encontrou protegidos em baixo de uma das árvores do quintal. Notou, todavia, que o seu garoto de oito anos se escondia por trás dos demais, temendo reprimendas. Aproximou-se, para ficar sabendo que fora o próprio filho a atear fogo na casa, copiando todos os pormenores da descrição do incêndio criminoso feita pelo pai. ....................... Nunca nos esqueçamos da cautela que devemos ter em nossos comentários sobre acontecimentos menos felizes. Quem nutre conversação inconveniente, pode estar colaborando com a divulgação do mal dentro do próprio lar. Devemos considerar que o mal não merece comentários em momento algum, a menos que seja para ser corrigido.

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Quando você quiser que uma notícia ou idéia seja esquecida, não a comente. Foi combatendo as doutrinas e idéias consideradas maléficas que a humanidade as popularizou e tornou conhecidas. Assim, a melhor maneira de se combater o mal é dar-lhe total esquecimento.

Pense nisso e tenha um Bom Dia!



COLUNA ISTO POSTO - PAULO MARTINS - GAZETA DO PARANA


MEDICE – APLAUSOS - I

Uma preciosidade descoberta por Jairo Gualberto e distribuída aos amigos. Uma crônica de Nelson Rodrigues, dos tempos do presidente Médice, em torno de sua popularidade, ele que jamais foi vaiado em lugar nenhum, ao contrário, foi aplaudido de pé no Maracanã, mesmo local onde Lula recebeu uma das maiores vaias da história daquele estádio. Como o artigo é longo, a coluna terá que publicá-lo em dois capítulos. O primeiro hoje e, o restante amanhã. (Aqui no e-mail está completo)

De NELSON RODRIGUES,

Primeira parte:


"Não há nome intranscendente e repito: qualquer nome insinua um vaticínio. Todo o destino de Napoleão Bonaparte está no seu cartão de visitas. Ao passo que um J. B. Martins da Fonseca não tem nenhum destino especial e vou mais longe: não tem destino. Quando batizaram William Shakespeare, o padre poderia perguntar-lhe: "Como vão tuas Obras completas?". No simples "William Shakespeare" estava implícita a música verbal do seu teatro. Mas um certo nome exige uma certa cara. Napoleão Bonaparte pedia um perfil napoleônico. Um Gengis Khan precisa de fotogenia. Ou então um John Kennedy. O que era o presidente assassinado senão o queixo forte, plástico, histórico? Ele venceu Stevenson e depois Nixon porque tinha as mandíbulas crispadas do Poder. Por isso, o tiro arrancou-lhe o queixo. Outro: Churchill, com a sua maravilhosa cara de buldogue. Em todos os citados, cara e nome, justapostos, explicam uma nítida pré-destinação. Fiz essa pequena introdução para chegar ao nosso presidente. Quando começou o jogo de candidaturas, disse eu: "Ganha esse, pelo nome e pela cara". Não é impunemente que um homem se chama Emílio Garrastazu Médici. Tiremos o Emílio e fica Garrastazu. Tiremos o Garrastazu e ficará o Médici. Bem sei que essa meditação sobre o nome pode parecer arbitrária e até delirante. Não importa, nada importa. Depois vi a sua fotografia. Repeti, na redação, para todo o mundo ouvir: "É esse o presidente". Ora, numa redação há sempre uns três ou quatro sarcásticos. Um deles perguntou: "Só pelo nome?". Respondi: "Pelo nome e pela cara". Como já disse, a história e a lenda também exigem uma certa fotogenia. E senti que Emílio Garrastazu Médici tinha um perfil de moeda, de cédula, de selo. Organizem uma retrospectiva presidencial e verão que os nossos presidentes são baixos. Getúlio era baixíssimo, embora tivesse um perfil histórico e, digamos, cesariano. Epitácio foi fisicamente pequeno. Era a pose que o fazia mais presidencial. Garrastazu Médici é o nosso primeiro presidente alto. Dirão vocês que eu estou valorizando o irrelevante, o secundário, o fantasista. Desculpem o meu possível equívoco. E se me perguntarem porque estou dizendo tudo isso, eu me justificarei explicando: conheci, domingo, o presidente Emílio Garrastazu Médici. E o pretexto para o nosso encontro foi um jogo de futebol. Outra singularidade do chefe da nação: gosta de futebol e sabe viver, como o mais obscuro, o mais anônimo torcedor, todas as peripécias dos clássicos e das peladas. Isso é raro, ou melhor dizendo, isso é inédito na história dos presidentes brasileiros. Imaginem um Delfim Moreira, ou um Rodrigues Alves, ou um Wenceslau Brás entrando no estádio Mario Filho. Qualquer um desses perguntaria: "Em que time joga o Fla-Flu?", "Quem é a bola?" ou "O córner já chegou?". O nosso presidente sabe tudo de futebol. Eu diria que hoje nenhum brasileiro será estadista se lhe faltar a sensibilidade para o futebol. Mas dizia eu que foi um jogo - São Paulo X Porto - que nos aproximou. Na sexta-feira passada, o Palácio das Laranjeiras começou por me procurar. Se eu fosse terrorista, não seria tão perseguido. Finalmente, falo pelo telefone com o Palácio. O secretário de Imprensa queria me transmitir um convite. Onde e a que horas poderia falar comigo? Marcamos o encontro. Simplesmente, o presidente Médici me convidava para assistir, a seu lado, na inauguração do Morumbi, o jogo internacional. Eu iria, com S. Exa., no avião presidencial. O presidente fazia o maior empenho em que o acompanhasse. Confesso, sem nenhuma vergonha, que o convite me fascinou. O que têm sido as nossas relações com os presidentes da República? Nada. Sim, há entre nós e o presidente uma distância infinita, espectral. E o Supremo Magistrado, como se diz, é um ser misterioso, inescrutável, sinistro. No meu caso, o presidente se dispunha a acabar com a distância e me receber na áspera solidão presidencial. De mais a mais, o Brasil vive o seu grande momento. Eis o nosso dilema: o Brasil ou o caos.
(Amanhã, nesta coluna, a parte final)


MEDICE – APLAUSO- II

Esta é a segunda parte – a primeira foi publicada aqui ontem – de artigo de Nelson Rodrigues, uma preciosidade encontrada por um amigo e enviada à coluna. Eis, pois, a parte final:

O diabo é que temos a vocação e a nostalgia do caos. É o momento de fazer o Brasil ou perdê-lo. Esse Garastazu Médici é, neste instante, uma das figuras vitais do país. Eu ia vê-lo, ia ouvi-lo. Sim, ouvir os ruídos da sua alma profunda. Todo o mundo tem, no bolso do colete, o seu projeto de Brasil. Garrastazu tem o seu e pode realizá-lo. Ao passo que nós não temos força para tapar um cano furado. Bem. Aceitei o convite, ressalvando: iria de tudo, menos de avião. "De automóvel?", perguntou o secretário de Imprensa. E eu: "De qualquer coisa" - e repeti - "nunca de avião". Sábado, o meu filho Nelson levou-me para São Paulo no seu Fusca. Durante a viagem, uma pequena mas intolerável inibição instalou-se em mim: "Chamarei o presidente de 'excelência' ou simplesmente de 'senhor'?". Ao mesmo, imaginava que o Poder desumaniza o homem. Seria Garrastazu uma figura áspera, hierática, enfática? Pensava, ao mesmo tempo, num episódio recente. No jogo do Grêmio, e antes de ser presidente, e antes da definição das candidaturas, o general Garrastazu Médici desce ao vestiário. Vejam se vocês conseguem imaginar um Delfim Moreira, ou um Epitácio num vestiário de futebol. Pois o general chega e pergunta: "Como é, Alcino, que você vai me perder aquele gol?". No Fusca do meu filho Nelson, eu queria crer que um homem assim é um brasileiro vivo e não uma pose, e não uma casaca, e não uma faixa, e não uma condecoração. No dia seguinte, estava eu no aeroporto. Tivemos uma primeira conversa e, durante o dia, uma outra, e uma terceira, e uma quarta. Vi a seu lado a inauguração (ou a décima inauguração do Morumbi). Ora, no momento não há nada mais importante do que saber o que pensa, o que sente, o que imagina, o que quer um presidente da República, investido de tantos poderes. No meio do jogo, ele insistia para que eu voltasse no seu jacto. Digo, por fim: "Está certo, presidente. Vou voar pela primeira vez". É preciso não esquecer o que houve nas ruas de São Paulo e dentro do Morumbi. No estádio Mário Filho, ex-Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio e, como dizia o outro, vaia-se até mulher nua. Vi o Morumbi lotado, aplaudindo do presidente Garrastazu. Antes do jogo e depois do jogo, o aplauso das ruas. Eu queria ouvir um assobio, sentir um foco de vaia. Só palmas. E eu me perguntava: "E as vaias? Onde estão as vaias?". Estavam espantosamente mudas. Até Domingo, às seis e meia, sete da noite, eu não entrara jamais num avião pousado, num avião andando, num avião voando. Lá em cima, não há paisagem; e, se não há paisagem, estamos fazendo a antiviagem. Conversamos longamente. Houve um momento em que ele me disse: "Sou um presidente sem compromissos. Só tenho compromissos com a minha pátria". Eis um homem que fala em pátria, em "minha pátria". Para a maioria absoluta dos civis, "pátria" é uma palavra espectral, "patriota" é uma figura espectral. E as nossas esquerdas fizeram toda a sorte de manifestações. Não berravam, não tocavam na "pátria". Nas passeatas, berravam, em cadência: "Vietnã, Vietnã, Vietnã". Pichavam os nossos muros com vivas aos vietcongs, a Cuba. Nenhuma alusão à pátria, nenhuma referência ao Brasil. E, no entanto, vejam vocês: o Amazonas tem menos população do que Madureira. Aquilo é uma gigantesca sibéria florestal. E as esquerdas só pensavam no Vietnã, e só pensavam pelo Vietnã e só bebiam pelo Vietnã. Certa vez, conversei com um membro da esquerda católica. Exortei-o a desembarcar no Brasil. Disse-lhe que, na pior das hipóteses, temos paisagem. Citei o Pão de Açucar, o Corcovado. Mas ele batia na tecla obsessiva e fatal: "O Vietnã, o Vietnã, o Vietnã" etc. etc. Ainda no meu élan paisagístico, fiz a apologia da Vista Chinesa, recanto ideal para matar turista argentino. Mas havia entre mim e ele a distância que nos separa do Sudeste Asiático. Eis o que o meu amigo propõe: que os brasileiros bebessem o sangue uns dos outros como groselha. Antes de se despedir, o membro da esquerda católica concentrou sua ira nas Forças Armadas. Acusou-as de incapazes, de ineptas, de relapsas. "Os militares nunca fizeram nada", afirmou. Desta vez, perdi a minha paciência. Tratei de demonstrar-lhe que os militares fizeram tudo. No Sete de Setembro (e Pedro Américo não me deixa mentir) foram sujeitos de esporas e penacho que deram o grito do Ipiranga; e, se os militares não fizeram nada, que faz a espada de Deodoro na estátua de Deodoro? Foi a inépcia militar que fez a República, assim como fizera a independência. Em 22 e 24, era o sangue militar que jorrava como a água, a água da boca dos tritões de chafariz. Em 30, em 32, em 35, foram os militares. Assim em 89. Retirem as Forças Armadas e começará o caos, o puro, irresponsável e obtuso caos. Há anos e anos que eu não digo "pátria". E quando o presidente Garrastazu falou em "minha pátria", experimentei um sentimento intolerável de vergonha. Esse soldado é de uma natureza simples e profunda. Está disposto a tudo para que não façam do Brasil o anti-Brasil. Seja como for, deixará este nome, para sempre: Emílio Garrastazu Médici."


(Nelson Rodrigues)