segunda-feira, 28 de abril de 2008



Mensagem do dia 29/04/2008

Projetos Inacabados

Faz parte da natureza humana sonhar e idealizar as mais variadas realizações. Um hábito muito comum é a lista que se faz no início de cada ano, as famosas "proposições de ano novo". Costuma-se relacionar hábitos nocivos a serem abandonados, cursos a serem iniciados e virtudes a serem adquiridas... Propostas razoáveis e, na maioria das vezes, necessárias ao desenvolvimento daquele ser que as relacionou. No entanto, comumente, antes mesmo da primeira semana do ano acabar, a lista é abandonada em alguma gaveta, juntamente com a disposição sincera de mudança que a havia inspirado. E lá se vão para o esquecimento, mais uma vez, as mudanças prometidas para si mesmo. Quem se espera enganar? Afinal, a proposição de reforma íntima atinge primeiramente ao próprio interessado. Propostas como essas abandonadas lembram projetos que se iniciam e não se realizam. São barcos que jamais alcançam o mar. Textos sem ponto final. Obras que não saem da prancheta de desenho. Músicas jamais executadas. Flores que não desabrocharam. Filhos que não nasceram. Amores inconfessados. Desenhos que nunca tocaram um papel. Promessas não cumpridas. Sonhos abandonados. Os dias passam rápidos. As folhas brotam, crescem e mais adiante caem das árvores, enquanto as pessoas passam seus dias adiando partidas, retardando começos e cancelando mudanças. E o que poderia acontecer de modo voluntário, acaba se tornando obrigatório. A vida, um dia, há de nos cobrar pelas realizações que nos caberiam e que não levamos a termo. Que realizações serão essas? Grandes feitos? Conquistas retumbantes? Não. Por certo, as mais significativas missões que nos foram confiadas têm o objetivo de domar nossas próprias imperfeições. "Ah! Mas é tão difícil vencer hábitos antigos!" - poderíamos argumentar. No entanto, mais difícil ainda será conviver para sempre com costumes infelizes que amargam a nossa existência e a daqueles que nos cercam. Projetos inacabados, por certo, temos vários. Qual deles retomar e concluir de uma vez por todas? Cada um de nós deverá saber qual é o mais urgente e mais viável, por ora. Trata-se de uma decisão intransferível e inadiável. É chegada a hora de realizar e de transformar. É hora de abandonar as desculpas que nos serviram de muletas por tantos séculos, retardando-nos, no mesmo compasso de atraso e de teimosia vã.


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Que o dia de hoje seja uma marca significativa na linha do tempo de nossas existências. Pouco importa que dia da semana seja. Não interessa em que mês do ano estejamos. Não há porque esperar por outra oportunidade. Chances são como brisas que surgem rapidamente e se vão de igual forma. Não há motivo real e justo para permanecer estacionados enquanto a vida nos chama a realizar o bem. Coragem e disposição hão de ser a inspiração que nos faltava. Não amanhã, mas sim, hoje. Não depois, mas sim, a partir de agora.

Mensagem do dia 28/04/2008
A Justiça

Quando criança eu tinha a mania de me sentir sempre injustiçado. Por um ou outro motivo, não me tinham feito justiça, sem perceber que, para mim, a “injustiça” era sempre qualquer restrição feita aos meus desejos, fantasias e vontades. E invariavelmente arrebentava em lágrimas de protesto. Um dia papai me chamou e disse: - Meu filho, vamos combinar uma coisa. Você sabe que papai não gosta de ver você triste, não é? Então nós vamos fazer o seguinte: cada vez que você chorar, escreva num papel a causa. Coloque o papel no vaso azul, ali, sobre a escrivaninha. Deixe passar alguns dias e leia-o. Se achar que o assunto ainda o está aborrecendo, venha a mim, conte-me o caso e eu lhe prometo que corrigirei a injustiça que tiverem feito contra você. Combinado? Estava combinado. Nos primeiros dias eu enchi o vaso azul de anotações. Passadas no preto e branco, minhas queixas me pareciam perfeitamente justificadas. Passaram-se os dias e meu pai voltou a falar comigo. - Você já pode começar a reexaminar os seus papéis. Depois venha falar comigo. Comecei. Mas, estranhamente, constatei que minhas queixas eram banais e que, na realidade, não havia naquilo nada que pudesse motivar aborrecimento. Abreviei o espaço dos dias e, depois, passei a examinar os papéis horas depois dos acontecimentos. Verifiquei que não tinha nenhuma injustiça a exigir a reclamação de papai. E parei de chorar várias vezes ao dia, como estava acostumado a fazer. Hoje compreendo que tudo foi uma brincadeira de papai. Todavia, com grande habilidade ele me levou a refletir antes de agir. E desenvolveu em mim a compreensão a respeito do que é justiça e injustiça em face do nosso egocentrismo, exigência de privilégios e pretensões descabidas. Com isso meu espírito de tolerância ganhou uma amplitude que me tem beneficiado ao longo de toda a vida.